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Jornal britânico faz denúncia sobre Marcela Temer, mídia brasileira abafa



Imprensa tradicional do Brasil esconde denúncia de jornal inglês contra esposa de Michel Temer. Daily Mail revela como os Temer vivem vida de “família real” à custa de dinheiro público e num período de crise econômica. Em outros tempos, comportamento da família presidencial geraria “indignação” na mídia nacional


Eduardo Guimarães, Blog da Cidadania

“Um dos maiores vexames internacionais a que o país poderá ser submetido nos próximos anos é o conhecido uso desmesurado de dinheiro público pela família de Michel Temer”, diz interlocutora profundamente versada em intimidades dos centros de poder. “Marcela é o ponto fraco de Temer”, diz a fonte. “Os caprichos dela ainda vão custar caro…”.

A conversa decorreu de fato envolvendo a mulher de Temer que saiu discretamente na mídia, mas que, fosse outro grupo político a ocupar o governo federal, teria ganhado grande destaque. Ou seja: se Lula ou Dilma governassem, o tema dessa reportagem daria pano pra manga.

Ainda estão frescas na memória de quem presta atenção no Brasil as picuinhas da imprensa contra os presidentes petistas. Lá em 2004, por exemplo, o mundo quase caiu sobre a cabeça de Lula porque a imprensa cismou com um arranjo floral nos jardins do Palácio da Alvorada que reproduziria uma “estrela do PT”.



A imprensa caçou ferozmente qualquer tipo de vinculação pública do então presidente Lula com seu partido, como se tal vinculação fosse segredo. O portal G1 chegou ao absurdo de questionar o fato de a esposa do então presidente, Marisa Letícia, usar um maiô com uma estrela vermelha estampada.


A obsessão midiática por supostos “abusos” dos presidentes “petistas” com a república perdurou até a era Dilma. Reportagem do Estadão de alguns anos atrás implicava com outra “estrela petista” que teria sido plantada na Granja do Torto.


Na semana passada, a imprensa noticiou que a ida de Marcela Temer e de seu filho para Brasília tem provocado mudanças na rotina e nos protocolos do Palácio do Jaburu, residência oficial da Vice-Presidência da República.

Uma das medidas tomadas recentemente foi a proibição do uso do estacionamento público localizado na entrada do local, que chegou a ter seu acesso bloqueado por um período logo que Temer assumiu o comando do país, em maio deste ano.

O que se sabe é que o caso não ganhou o destaque merecido. Na verdade, não ganhou destaque algum. A notícia saiu bem escondidinha e sumiu em seguida.

Marcela proibiu o uso do estacionamento porque ficou incomodada com a exposição que poderia ter e com a possibilidade de que fossem feitas fotos da área privativa do palácio caso a imprensa ficasse naquele lugar.

Quando a imprensa vai cobrir a Residência Oficial do presidente da República, seguranças vêm indicando outra região onde os carros de reportagem e veículos particulares podem ser estacionados.

Esses locais são improvisados. Ficam em um canteiro de grama, afastado da entrada do Jaburu, que teve o meio-fio quebrado para facilitar o acesso, ou em faixa de asfalto com a marcação de proibição para o tráfego.

As demarcações são irregulares, mas estão lá porque “dona Marcela quer”.

A Secretaria de Comunicação da Presidência da República negou que a restrição ao uso do estacionamento público tivesse sido pedida por Marcela, mas não explicou por que tal medida só foi tomada após a chegada dela ao Palácio.




Seja como for, a restrição intempestiva e inédita de uso de área pública simboliza um comportamento da família presidencial que em outros tempos geraria “indignação” na imprensa antipetista.

A fonte do Blog citou esse caso como decorrente de histórias sobre o comportamento de ditador de república bananeira que se diz que vem sendo adotado por Temer, sobretudo após virar presidente interino.

Em maio último, o tabloide inglês “Daily Mail” publicou extensa reportagem sobre Marcela dando conta de uma vida de “família real” que os Temer se dão à custa de dinheiro público.



O tabloide, que utiliza fotos postadas nos perfis do Instagram de pessoas próximas a Marcela, comparou os gastos da esposa de Michel Temer aos de Maria Antonieta, rainha da França na época da Revolução Francesa e esposa de Luís XVI, no fim do século 18.

Segundo o jornal britânico, os gastos financeiros da primeira-dama, de 33 anos, não refletem o momento de crise que o Brasil enfrenta.

Na artigo, o Daily Mail lista uma série de aquisições não só para Marcela, como para sua família. Entre eles, as viagens internacionais de primeira classe, cirurgias plásticas e procedimentos estéticos para a mãe de Marcela, Norma Tedeschi, e uma vida regada a champanhe, roupas caras e festas badaladas para a irmã, Marcela Fernanda Tedeschi.

Ainda de acordo com a publicação, a família possui quatro camareiras somente para lavar e passar as roupas, além de duas empregadas, uma cozinheira e uma babá para cuidar de seu filho único, Michelzinho, de 7 anos.

As despesas, segundo o jornal, não param por aí: Marcela Temer teria promovido uma reforma em vários cômodos no Palácio do Jaburu, residência oficial da Vice-Presidência em Brasília, que, de acordo com a publicação, custou milhões de reais de dinheiro público. Marcela teria ainda insistido para o marido comprar uma casa para sua mãe e sua irmã na capital federal avaliada em cerca de R$ 7 milhões.

Diante do comportamento anterior da imprensa, quando petistas governavam o país, surpreendeu a reação da imprensa brasileira ao que diz a homóloga britânica. Reportagem do jornal Folha de São Paulo tenta desqualificar a matéria atribuindo-lhe pequenos erros que, na prática, não invalidam uma só acusação de abuso do dinheiro público atribuído à família presidencial.


Entre os erros que a imprensa brasileira atribuiu à matéria britânica está a informação de que Marcela estava ao lado do marido na cerimônia de posse de Temer como presidente interino, apesar de que ela não estava. E, ironicamente, a matéria critica o perfil de Marcela pelo “Mail” por citar críticas que teriam sido direcionadas ao casal sem divulgar o autor das falas.

Sim, você leu corretamente: a Folha criticou o jornal britânico por divulgar informações de fontes que não quiseram se identificar, como se, no Brasil, essa prática não estivesse por trás de nove entre dez denúncias midiáticas contra petistas.

O tabloide, segundo a Folha, afirmou “incorretamente” que a irmã de Marcela, Fernanda Tedeschi, chegou a posar para a revista “Playboy” e que as fotos depois “foram misteriosamente vazadas na internet”.

A defesa que Folha faz para a família Temer diz que a irmã de Marcela, Fernanda apenas assinou um contrato com a revista e desistiu antes de posar para o ensaio. As fotos que chegaram a ser divulgadas são de uma prévia antecipada pela Editora Abril, que publicava a “Playboy” na época.

O que isso muda em relação à denúncia da imprensa britânica? Se você disse nada, acertou.

O fato a destacar é que se estão erradas as informações sobre gastos exagerados feitos pela família Temer, cumpriria à imprensa brasileira investigar e publicar a verdade. As reformas feitas no palácio, todos os gastos abusivos com dinheiro público teriam que ser investigados e, em nada sendo encontrado, aí, sim, a imprensa brasileira poderia inocentar sua equivalente britânica, mas o assunto morreu em maio e nunca mais se ouviu falar do assunto.

Por outro lado, surgiram versões de que a preocupação com o suposto estilo imperial de Marcela, que dizem custar (muito) dinheiro público, seria “machismo”.

Não é difícil de isso ocorrer. Marcela é o alvo perfeito para machismo, tanto quanto Dilma. Porém, ninguém viu a mulher de Temer reclamando da Veja por tê-la qualificado como “bela, recatada e do lar”, o que, para qualquer mulher emancipada, é quase uma ofensa.

Além do mais, não pode haver machismo em uma denúncia objetiva de que Marcela gasta o dinheiro suado de nossos impostos com mordomias… Certo? Assim, o que se pede, ao fim e ao cabo, é que essa denúncia seja alvo da mesma “apuração jornalística” que implicava com um mísero canteiro de flores em administrações petistas.

Arrumemos cadeiras confortáveis para esperar por essa apuração.

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