Mulher do homem mais detestado do Brasil Foto: Marcelo Naddeo (TPM) |
Cara
Marcela:
Bem-vinda
ao mundo como ele é. Soube que você chorou quando ouviu as pessoas protestarem
contra seu marido em frente à sua casa em São Paulo.
Li
que você temeu que a casa fosse invadida.
Não
foi. Mas isso em certas circunstâncias pode acontecer. Quando o povo está muito
revoltado com as trapaças dos ricos para manterem seus privilégios, por
exemplo.
Na
França da Revolução, a multidão invadiu o Palácio de Versalhes, e cabeças de
soldados da Guarda Real foram mostradas a Maria Antonieta espetadas em paus.
Não
que isso possa acontecer com você. Como escreveu Rubem Braga, os brasileiros
jamais fariam uma revolução como a que os franceses fizeram para se livrar de
sua plutocracia.
Soube
que, apavorada, você ligou para seu marido, Mi. Talvez por isso ele tenha dito,
no dia seguinte, que não é nenhum coitadinho, e que sabe mandar.
Você
pode dizer se ele sabe mesmo mandar. O que nós podemos dizer, e lamento se isso
não vai ser agradável a seus ouvidos, é que seu marido hoje é o homem mais
detestado do Brasil.
Talvez
você não soubesse dito. Vive num universo protegido, em que as coisas chegam
filtradas a você.
Mas
Mi, repito, é abominado.
Ele
tem todos atributos de um canalha. Traidor. Conspirador. Usurpador.
Oportunista. Falso. Mentiroso. Cínico. Hipócrita. Golpista.
Você,
até há bem pouco tempo, não sabia quanto ele era detestado. E é então que me
ocorre uma frase de Sêneca, o grande filósofo estoico romano. “Cuidado com o
que deseja, porque o que você deseja pode se tornar realidade.”
Você
certamente ambicionou, no processo de impeachment, que Mi chegasse ao Planalto,
nem que fosse, como foi, pela porta dos fundos.
Imagino
a festa que você fez quando o impeachment foi aprovado. E no entanto, tão
poucos dias depois, sua alegria se transformou em lágrimas e dor.
Bela,
recatada e do lar, escreveu a Veja. Falta agora acrescentar, diante dos gritos
nacionais contra Mi: e triste.
Dificilmente
você conseguirá ir a lugares, daqui por diante, sem ser chamada de golpista.
Não
é culpa sua, exatamente. É de Mi. Provavelmente você vai sentir em algum
momento saudade dos tempos em que era simplesmente a mulher de um vice
decorativo.
Não
chego a ter pena de você, embora talvez devesse. Edmund Burke, um dos grandes
liberais da história do pensamento político, jamais perdoou a Revolução
Francesa pelo que foi feito a Maria Antonieta. Burke sentiu imensa pena pela
sorte dela.
Meu
estoque de piedade está concentrado nos miseráveis, nos excluídos – em todos
aqueles que representam o oposto de seu Mi.
Mas
torço por você. Torço para que seu suplício como mulher do homem mais odiado do
Brasil seja breve.
Para
tanto, bastará que ele seja enxotado do cargo ao qual chegou por um complô de
homens corruptos interessados apenas em manter suas mamatas e sua eterna
impunidade.
Saudações
democráticas do Paulo Nogueira.
Fonte:
DCM
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